A boa noticia é que estamos quase a bater no fundo e, se Deus quiser, daí não passamos e vai ser sempre a subir. A má noticia é que estamos quase a bater no fundo.
Portugal caminha á deriva, governado por um governo que é mau, persecutório e surrealista, um governo que considera a interrupção voluntária da gravidez, o aeroporto da Ota e o TGV como as grandes prioridades de acção ao mesmo tempo que, vá se lá saber porquê dado que até são socialistas, privatizam a saúde, aumentam a idade de reforma e os salários vão ficando cada vez mais distantes da média europeia.
A campanha eleitoral de Lisboa é o exemplo acabado de quão fundo estamos a bater. A autarquia lisboeta, supostamente a mais rica e desenvolvida do país, atravessa uma crise gravissima que engloba um passivo monstruoso, escândalos de corrupção, instabilidade política, inércia, despesismo, enfim, um sem fim de exemplos de como não se deve governar nenhuma casa, muito menos uma autarquia. A classe política como responde? Para além da troca de mimos entre si, de uma divisão nunca vista que coloca PS contra PS, PSD contra PSD, PSD contra PS e PS contra PSD, seja em candidaturas partidárias ou independentes, de uma coisa já podemos ter a certeza...em Lisboa ninguém se entende nem quer entender, e quem paga a factura são as cidadãs e cidadãos de Lisboa, em particular, que vão ter uma Câmara de loucos a governar o seu dia-a-dia, e Portugal, em geral, que vai ter que suportar a riqueza suficiente para pagar a divída, a que já existe, e as megalomanias de quem ganhar.
Num país em que o governo persegue os seus cidadãos, seja despedindo aqueles que pode, ou agindo judicialmente sobre aqueles que não pode despedir; em que o Ministro da Saúde considera prioritário o encerramento de Urgências e Maternidades, para depois atribuir licenças a privados para providenciarem esses mesmos serviços (nesses mesmos sítios em que não se justificava haver Urgências ou Maternidades), e em que ainda se entretem a fazer piadas, e de mau gosto, sobre os pobres e os medicamentos fora de prazo; em que o Ministro das Obras Públicas considera que é importante afirmar que é mesmo Engenheiro, não vá alguém confundi-lo com o Sr. Primeiro-Ministro (esse super-homem capaz de fazer 4 exames no mesmo dia e ao Domingo!), e que para além de se afirmar Engenheiro mostra também desconhecer a geografia do país e até pensa que a sul do Tejo há um deserto; em que o Ministro da Economia considera que o melhor que Portugal tem para se promover lá fora e, assim, atrair investimento estrangeiro é dizer alto e bom som que cá ganha-se mal (é preciso ter lata!) para além de que crê que as regiões do país do que precisam não é de infra-estruturas e investimento no desenvolvimento, mas antes, de operações de marqueting e “inglesar” os nomes dessas regiões (vide o que se passa no nosso “All”garve!); num país que está neste estado já só falta mesmo é um Jorge Sampaio que dissolva uma maioria absoluta estável e convoque eleições antecipadas já (qual “golpe de estado” constitucional).
Portugal, mais do que nunca, precisa de nós, de todos nós, precisa que nos envolvamos na sua vida, em vez de nos preocuparmos só com a nossa vida, precisa que tomemos conta dos partidos políticos, da Assembleia da República, do governo, das autarquias, e que acabemos de uma vez por toda com esta mediocridade em que vivemos todos porque nos decidimos, há algum tempo atrás, conformar com o nosso fado de país pequeno, de olhos postos no passado e com saudades de tudo menos do futuro.
O destino está nas nossas mãos, e ou tomamos a iniciativa e exigimos mais a quem nos governa, a quem lidera este país, ou então continuaremos a viver num país de enganos, num país do faz-de-conta, em que mais vale ser varredor de rua lá fora do que Engenheiro ou Doutor cá dentro.