Wednesday, February 21, 2007

A Aveiro que sonhei…

Ultimamente tenho dado por mim a discutir com amigos e conhecidos a nossa cidade de Aveiro. Por coincidência, ou talvez não, parece que andamos todos desiludidos, tristes e cabisbaixos nesta cidade que é nossa e que nos acolheu.

Eu nasci em Aveiro, aqui fui criado e aqui vivo, outros escolheram Aveiro como sua sede de vida e para aqui imigraram quando a vida lhes permitiu, e outros de Aveiro saíram sem nunca esquecerem esta cidade de canais e de pirâmides de sal, entre o mar e a montanha. Todos, os que cá nasceram e ficaram, os que cá nasceram e tiveram que partir, os que para cá vieram, todos somos Aveiro, esta é a nossa terra, esta é a nossa casa.

Porém parece que vivemos de costas voltadas, que recusamos a nos conhecermos melhor, a aproveitarmos as nossas diferenças para crescermos enquanto pessoas e enquanto cidade. Ás vezes dou por mim a pensar que em Aveiro parece que há quem pense que é mais aveirense que os outros ou quem sinta que cá pertence menos que outros, e isto não é vida para ninguém.

Algures no tempo que passou alguém decidiu que a ria devia ser fronteira e não rota para o mundo, que as raízes são temporais ou históricas, e não afectivas, e Aveiro mirrou, fechou-se ao mundo e dividiu-se entre os “Aveirenses” e os “aveirenses”, criando uma cidade, um concelho, de contrastes e de diferenças, de legitimidades e de indiferenças, uma cidade de costas voltadas para si própria, uma cidade que se auto-exclui de si e do mundo em que vive.

Quando era miúdo Aveiro era o meu mundo e aqui tudo acontecia. As ruas eram estádios de futebol maiores que o Maracanã, os parques terras de aventuras perpétuas em que o bem vencia sempre o mal, a escola lugar de conhecimento e sabedoria que me deslumbrava. Sempre que podia, nas férias, lembro-me de ir ao porto esperar os barcos que regressavam da faina, de passear pelos mercados cheios de vida, dos sorrisos nas caras das pessoas que passavam e desejavam bom dia, e lembro-me de pensar que era aqui que queria viver pois no mundo não poderia haver melhor, e o que de melhor houvesse no mundo um dia, também, haveria de cá chegar.

O meu sonho de Aveiro era uma terra de braços abertos ao mundo, de olhos postos na ria e no mar como caminhos a desbravar, uma casa para todos os que cá quisessem morar, uma terra que crescesse com os sonhos de todos os aveirenses, fossem quem fossem, uma terra em que a felicidade não era um objectivo a conquistar mas, antes, um estado de espírito que se renovava todos os dias ao despertar.

Inspirado nas conversas que tive ultimamente, com amigos e conhecidos, e se a inspiração mo permitir, irei ao longo das próximas semanas compartir convosco a Aveiro que sonhei, a Aveiro que está por cumprir, a Aveiro em que um dia poderemos todos habitar, uma Aveiro de todos, com todos e para todos, porque os sonhos são para se viver e a vida é para sonhar!

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